fecharo a linha vermelha

Yuri Eiras
2 min readNov 5, 2021

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Essa música do Rappa me acalma os nervos como um sucão de maracujá.

Fecharam a Linha Vermelha, a Linha Amarela, a Avenida Brasil, turumarrói, e está tudo aparentemente calmo, a julgar pela melodia. Alto da Boavista, Vista China, Paineiras, mandaram esperar. E nada o afeta. No fim, ele parece dar o motivo de tamanha serenidade em meio a um cenário caótico: a chave é se benzer, orar, agradecer, se rezar.

Dizem que a ideia da letra veio após um tiroteio na Grajaú-Jacarepaguá, inclusive.

Viver numa metrópole violenta, pantanosa e desigual como o Rio de Janeiro é ter a sensação de que os dias calmos são aqueles em que a notícia mais importante é o trânsito caótico. Se não tem operação, enchente e assassinato violento, tudo azul. A vida do carioca, do brasileiro pobre, é tão cheia de picas que o percalços básicos, como o deslocamento o a vida no trabalho, são problemas menores. No fim do dia, estamos no lucro se chegarmos em casa na sexta-feira, abrirmos uma cerveja industrial de milho e espalharmos, através da caixa de som, um pagode ou um piseiro pelos cômodos da casa. Sozinhos ou acompanhados, esta é a Paz de Cristo nacional.

Sei que é preciso lutar a cidade. Lutar para que ninguém mais morra de tiro, lutar pelos que têm fome, lutar contra os bandidos que nos sugam direitos e dinheiro, mas é preciso chegar em casa e descansar, também. Dormir neném. Vejo pessoas ao meu redor completamente destroçadas pela rotina, principalmente após um ano cheio de dor. Há quem só fale de desgraça, fulano foi pra cadeia, o outro não foi, mas merecia, e Bolsonaro, e polícia. Isso, se não mata diretamente, mata indiretamente. Insônia, pânico, ansiedade, o caralho de asa afeta nossa geração. É como diz o mano: aí, muda de assunto e traz a fita pra ouvir porque tô sem, principalmente aquela lá do Jorge Ben. Descansar, militante é fundamental pra sanidade.

Não caiam na esparrela dos ricaços que só falam desgraças na internet. É justamente porque faltam problemas na vida real. Empregada, babá, débito automático, nespresso e água gelada na porta da geladeira. Ipanema, Leblon e Gávea continuam iguais. Vejo playboys que brincam de reclamar toda a opressão cometida por eles mesmos durante as últimas décadas. Culpa cristã. Não vamos segui-los. Lutar sim, mas relaxar também. Vamos brincar nosso carnaval, torcer pelo Brasil na copa e reclamar do Neymar depois. Um Casimiro, uma Brahma, um Vou Pro Sereno Ao Vivo. Vai ficar tudo bem. A vida está reabrindo e o mundo não vai acabar tão cedo. Tem que recomeçar, tem que construir.

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