o medo do medo do homem
a quarentena trouxe sonhos esquisitos em vocês também? pois é, doidão isso. deve ser a quantidade de informações ruins que recebemos durante o dia, somada à falta de exercícios físicos, talvez, ou mesmo prenúncios da Segunda Vinda, programada, segundo os muros da cidade, para 2070. essa noite, por exemplo, sonhei que estava prestes a sair na mão com um sujeito muito maior que eu. lembro de um fragmento de cena: mandei ele tomar no cu, virei de costas e senti um medo impressionante.
esse é um momento tenso, mesmo, na vida real. nós, homens, xingamos para mostrar que ninguém tira chinfra com sujeito-homem, as coisas não são bem assim, não somos uns merdas quaisquer. somos merdas declarados, requisitados muitas vezes. merdas reconhecidos como tais há gerações. filhos, pais e avôs. são séculos de homens de merda em muitas nações diferentes, quase todas elas do lado ocidental.
ao sonho: senti medo quando xinguei o grandão e virei de costas, assim como sentiria muito medo também se fosse na vida real. a partir do momento em que você está de costas, tudo é surpresa. empurrões, socos no pé da orelha, voadoras, sabe-se lá. facada, tiro. você não sabe o que vem. com muito medo, acordei. pus a mão esquerda embaixo do travesseiro, depois a direita em cima da cabeça; barriga para cima, perna para o lado. pensei, pensei, pensei. não mais dormi.
o medo é um signo muito mal interpretados pelos homens, de maneira geral. na infância, somos treinados a não ter medo. na adolescência, fingimos ter aprendido. aí na fase adulta eles vêm a galope, centenas deles, espadas em punho, prontos para nos ferir. encararíamos de frente se na infância tivéssemos aprendido a enfrentá-los. mas só aprendemos a xingar e fugir. fugimos, atropelamos outras pessoas, corremos muito e, claro, não damos conta. eles vêm a galope, centenas deles.
pois essa noite vou fazer diferente se o grandalhão cismar comigo de novo. vou perguntar qual a dele contra a mim, resolver com maturidade, no desenrolado. volto para contar detalhes da peleja.
