tomei uma dura em pleno sonho
rapaz, sonhei de novo que sentia medo. que porra de homem é esse que sente medo até dormindo? é um homem ou um saco de pipoca? um homem ou um rato? um saco de pipocas, claro. um rato dentro de um saco de pipocas.
na primeira vez, escrevi aqui, sonhei que mandava alguém tomar no cu e virava de costas, com medo de tomar-le um tapão, ou um soco. na segunda, estava prestes a apanhar de um lourão imenso. de ontem pra hoje foi mais punk. sonhei que tomava uma dura. daquelas de tremer as varetinhas.
sonhei que tava no banco de trás do carro, numa pista. parecia de noite. a viatura imbicou, sei lá, brotou do chão, caiu do céu, vale tudo, é sonho. o PM saiu da patamo já falando pra caralho, fuzil atravessado. ele abriu a porta do carro e eu me encolhi. lembro disso no sonho. me encolhia como um caramujinho no banco. ele mandava eu sair do carro, mas eu não conseguia. lembro bem da sensação de estar travado, congelado, ouvindo ele gritar mas sem conseguir que mover. uma porra, né. e pior: bem possível que aconteça por aí.
antes que eu me cagasse na vida real, meu cérebro me despertou. foi uma pica pra voltar a dormir, mas pelo menos me livrei do samango.
tenho sentido mais medo. ou, uma possibilidade possível: tenho percebido que sinto medo. normalmente nós, hominhos, negligenciamos esse sentimento tão complexo. complexo, sim. afinal o medo é bom, ou é ruim? sei não, mas a gente negliencia. inventamos historinhas mentais, mentimos muito para nós mesmos, bancamos o durão incorporando o caráter de qualquer rockstar ou ator garanhão dos anos 1980 pra fingir que somos implacáveis, invencíveis, irresistíveis. tudo mironga. no fundo somos sacos de pipocas. ratos dentro de sacos de pipocas. assumir isso é um bom primeiro passo para virarmos sujeitos homens.